quinta-feira, 13 de novembro de 2008

O velho e o pincel amarelo






No chão, entre papéis e sujeira, um pincel amarelo jogado, sem que ninguém o note. Em um canto da sala, um rapaz conversa em meio a altas gargalhadas com seus colegas, acendendo e apagando, incansavelmente, seu isqueiro com a mão direita, ao mesmo tempo em que brinca com o maço de cigarros com a mão esquerda. Enquanto isso, a poucos metros dele, vê-se um cartaz na parede, já com as pontas dobradas e amassadas escrito em letras grandes que se tenha atitude e não fume.
Uma mesa rodeada de cadeiras que já não cabem mais em torno dela e outra com apenas duas cadeiras e duas latinhas vazias jogadas sobre ela. Um cheiro adocicado de chocolate infesta a sala quando duas garotas entram conversando baixo enquanto ouve-se alto com voz estridente, uma moça contando o que fez no último final de semana. Muita gente e janelas fechadas, mas mesmo assim o ar frio que sai do ar condicionado é o suficiente para ouvir alguém comentando como o ambiente está gelado.
Uma espécie de varal preso ao redor da sala nas paredes, com quadros pretos pendurados por arames e fotos coladas nos centros deles. Fotos simples, de pessoas correndo, pulando, praticando atividades físicas. Entre cadeiras sendo arrastadas e gente falando sem parar, preocupadas com trabalhos de conclusão de curso e em como irão voltar para casa, um quadro chama a atenção: Trata-se de um senhor, já de idade, em pé com vestimenta humilde, olhos fechados e braços estendidos transmitindo um espírito de paz e tranqüilidade incrível. Um espírito que talvez. as pessoas ao redor daquela foto, estivessem precisando, deixando o que as preocupa de lado.
Um garoto se levanta batendo por distração a cabeça em um dos quadros, fazendo com que todos os outros quadros saiam do lugar. A sala aparenta estar mais fria e vai ficando vazia. As cadeiras jogadas de lado e as mesas mesmo sem ninguém, continuam desordenadas. No chão, entre papéis e sujeira, o pincel amarelo já não estava mais lá.
Helena Cristina de Oliveira

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